sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Completamente Contraditório



Você é o avesso de toda certeza e de todo incerto. E por mais que isso não faça sentido, de alguma forma eu consigo entender.

Alguém que viaja nas 20 mil léguas submarinas das palavras, me faz voar até o céu em nuvens cor de rosa de algodão,me faz atingir as estrelas para me fazer acreditar que meu brilho é maior que o delas...

Alguém que me transporta para um mundo onde o impossível não existe; que me faz voar sem precisar de asas; que flutua ao meu lado num céu suave de azul sem fim...
Mas quando volta dessas nossas viagens, finca o pé no chão e aprofunda suas raízes de tal forma que é mais difícil de arrancar do que uma árvore centenária, tão emaranhadas que ficam. A razão se sobrepõe a todo o sentimento, ainda que  essa razão não siga nenhuma lógica visível ou sequer compreensível.

Para quê me levar tão alto e no instante seguinte me fazer perceber que pulei de um avião sem paraquedas? Como pôde me deixar estatelar no chão e não estar ao meu lado para segurar minha mão?

Eu caio. Mas me levanto. E sigo nesse passo descompassado. Tentando entender o inexplicável. Virando o avesso de todas as certezas. Contradizendo a contradição. 

Para bom entendedor, meia palavra basta, mas nem todas as palavras do mundo nesse momento podem me explicar você.


Queria que não fosse como é
Nem sei se tudo isso é de verdade
Só nos falamos quando você quer
Enquanto isso, morro de saudade
(...)
Preciso dizer que preciso
Sentir verdade no que você diz e faz
Ou me leve a sério
Ou vá embora
E não volte mais
(Quando Você Some - Victor e Léo)

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Affonso



Atendendo a pedidos, publico agora "O Conto"; aquele que me deu o prêmio de ontem no Concurso Literário da Biblioteca Municipal de Mogi Mirim.
Com vocês: AFFONSO

Aquela podia ser uma tarde como outra qualquer, mas não era. Marina estava com o olhar distante. O corpo na sala, mas a cabeça a milhares de quilômetros de distância. O ano de 1990 ia chegando ao fim, e ela estava terminando o colegial. Logo ia vir a faculdade e ela teria que sair de casa, mudar da cidadezinha já tão conhecida... Quem sabe um novo lugar a ajudaria a apagar as lembranças? Difícil seria ficar longe de Felipe, que tinha sido sua companhia constante desde que Affonso se fora.
Affonso. Era nele que pensava sentada junto a janela. Os dois tinham sido vizinhos e melhores amigos, daqueles que passavam o dia todo na rua, dando trabalho às mães quando tentavam bota-los para dentro de casa. Viviam o tempo todo juntos, e mesmo na escola, onde tinham cada um sua turma, sempre sugeriam brincar de pega-pega para poderem misturar meninos e meninas e correrem um atrás do outro.
O tempo foi passando e as coisas foram mudando. As brincadeiras de antes foram deixando de ter graça. Já não voltavam da escola de mãos dadas como antes. Aliás, na maior parte do tempo evitavam se tocar. Sempre sobravam reticências naquelas que antes eram longas conversas entre os dois.
A oitava série chegou, trazendo o fechamento de um ciclo. Affonso se tornou um rapaz bonito e vivia rodeado de meninas na escola. Marina não pôde deixar de reparar neste fato e também no estranho incômodo que todas aquelas garotas em volta dele lhe causavam. Por que elas simplesmente não sumiam e devolviam seu melhor amigo? Era por culpa delas que ele estava estranho assim, só pode! Por que será que ela não conseguia parar de pensar nele nas horas mais inimagináveis? Mesmo assim, ela continuava dizendo a ele que estava tudo bem, que não havia nada de estranho entre eles. Que era impressão dele e que ela estava normal.
Um dia ele demorou demais na hora da saída. Como não aguentasse mais esperar, Marina voltou para dentro da escola para buscá-lo. Encontrou-o conversando com uma daquelas garotas. Uma fresca, com voz de gralha engasgada, jogando os cabelos para um lado, risinhos para o outro.
Sem saber como e nem porque, Marina foi de um impulso até ele e gritou o mais alto que pôde. Disse a ele que ficasse com sua nova amiga, pois ela estava indo embora sozinha.  Que nunca mais fosse atrás dela. Que a esquecesse. Que a partir daquele dia ela iria embora sem ele até que acabasse a escola. E correu. E chorou. E encostou na árvore da pracinha, velha conhecida das brincadeiras dos dois.
Ficou lá, sem saber por quanto tempo. Foi então que ele chegou e sem dizer uma palavra, estendeu a mão para ajudá-la a se levantar. Envolveu-a num abraço e depois afastou seus cabelos desgrenhados prendendo-os atrás das orelhas. Sem perder mais nenhum instante, a beijou. E foi assim que Marina entendeu tudo. Estava apaixonada. Vivendo seu primeiro amor.
Mas como todo amor eterno, o deles teve um fim. O pai de Affonso foi escolhido como representante internacional de sua empresa e eles teriam que mudar de país no final daquele mesmo ano.
Affonso se despediu com um beijo e uma promessa rabiscada em um papel: “Um dia eu volto para buscar você!”.
Nesse meio tempo cartas foram trocadas, mais promessas feitas, mas era distância demais; as coisas mudaram, a vida seguiu seu curso e Marina já não era mais aquela menina que acreditava em fantasias de um amor de infância. Até porque agora, tinha em Felipe seu novo amor. E esse não fazia promessas vazias.
A garota foi arrancada de seus devaneios pela campainha que tocava insistentemente. Felipe chegou à porta primeiro e se pôs a olhar desconfiado. Marina abriu a porta e se deparou com um buquê de rosas tão gigantesco que escondia o rosto do entregador. Este tinha na mão um pequeno envelope e ela, pensando se tratar de um grande mal entendido, logo pegou o papel para indicar a casa certa ao moço. Qual não foi sua surpresa ao ver seu nome no envelopinho. Marina então pegou o buquê, agradeceu o entregador e fechou a porta. “Isso só pode ser coisa do meu pai!” – pensou.
Delicadamente depositou as rosas em cima da mesinha e abriu o envelope. Apenas uma frase estampava o pequeno pedaço de papel, e essa simples frase foi suficiente para transformar suas pernas em gelatina: “Eu disse que voltava para te buscar!”.
Marina estacou. Gelou. Sentou no sofá. Levantou. Andou de um lado para o outro na sala. Olhou pela janela. Abriu a porta e saiu, sem saber para onde ia, com Felipe em seus calcanhares. Chegou naquele lugar e parou. Lá estava ele, debaixo daquela árvore, mais lindo do que um sonho. Esfregou os olhos. Ele continuava lá. Pensou em fugir. Pensou em correr. Não conseguiu sair do lugar. Seria mesmo possível?
Pé ante pé seguiu até a árvore. Com o coração disparado sentiu aquelas mesmas mãos arrumando seus cabelos bagunçados atrás das orelhas. Era ele! De verdade! Fechou os olhos para sentir novamente aquele beijo, pelo qual tanto esperou. Foram três anos que mais pareceram uma eternidade.
Ficaram ali, matando a saudade, até que Felipe, não suportando mais assistir calado, protestou. Os dois olharam para ele e riram.
Depois das devidas apresentações feitas, os três voltaram para casa. Um garoto, uma garota e um cachorrinho. Mil promessas de uma vida a ser vivida. Marina não se lembrava de ter sido mais feliz.



segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Preconceito: Sinônimo de Ignorância

Fonte: Raio Privatizador


Gente, sinceramente, eu gostaria de saber o que e que vocês têm na cabeça...
O resultado dessa nossa eleição trouxe à tona fatos graves, que não podem ser ignorados.
Ao me deparar com essa figura absurda que ilustra este texto, fiquei abismada, fiquei chocada, fiquei triste...
E fiquei também estupefata, indignada de ver gente que se taxa de inteligente, culpando os nordestinos pelo resultado – que para eles foi desagradável – das eleições.
É inaceitável associar o fato de ser nordestino à burrice. Preconceito sim, é sinônimo de ignorância. A região onde você nasce, não.
Tem gente apoiando até mesmo um golpe militar!  Cara!!!! Vocês não tiveram aulas de história não? Vocês tão achando que o exército – ou sei lá o quê – vai subir lá, tomar o poder e a vida de vocês vai ficar linda, do jeito cor de rosa e perfumado como vocês imaginam nos seus sonhos? Ah pelo amor de Deus, vão estudar! Se vocês perderam as aulas referentes à ditadura militar, digitem aí no Google e deem uma estudadinha. Quem sabe essas suas cabeças ocas se encham de alguma coisa que valha a pena?
Não tolero preconceito. Não estou aqui para defender candidato nenhum, até porque, em minha opinião, nessas eleições não tínhamos candidatos bons de verdade.  Os debates pareciam circos e eram muito mais engraçados do que os programas de humor da atualidade. Alguns momentos ficaram até parecendo aqueles “Casos de Família”. Um acusa daqui, o outro acusa dali e nada de ninguém apresentar propostas concretas e coerentes. Só faltou o João Kléber no meio para separar as brigas, ou o Ratinho de cassetete na mão.
Agora, acusar os nordestinos por um resultado que não te agradou e ainda dividir o mapa ao meio dizendo que a “inteligência” está abaixo da linha e que os burros lá de cima que se lasquem, isso é ser inteligente? Ah, me poupe! Se associar o local de nascimento – ou a condição social -  de uma pessoa à burrice, significa ser inteligente, então pode me colocar para fora dessa linha também. Eu não possuo esse tipo de inteligência.
E eu devo ser muito burra mesmo e devo ter perdido umas aulas de geografia também, porque eu nunca soube que Minas Gerais e Rio de Janeiro pertenciam à região Nordeste... Que burra que eu sou!

Fonte: UOL


Enfim, se eu pudesse, eu ia embora do país. Mas não pelo resultado da eleição e sim para ficar longe de gente ignorante, que pensa que vai mudar o mundo dividindo a nação entre ricos e pobres, norte e sul, preto e branco, gay e hétero, cristão e ateu e toda infinidade de divisões que possa surgir.
Se querem tanto se dividir, porque não voltam logo pra inquisição? Taca tudo na fogueira e resolve soprando as cinzas no vento. Quem sabe o mundinho de vocês fique mais bonito, todo pintado de cinza e cheio de fumaça? Ou então, já que quer tanto dar o fora do país e viver onde as coisas sejam mais “às claras”, porque não vai morar lá na Faixa de Gaza? Ninguém vai sentir falta de vocês por aqui, e lá é tudo bem dividido, cada um dando passo em linha reta, do jeito que vocês estão querendo fazer no nosso país.
As pessoas estão se esquecendo de serem pessoas, preferindo viver com rótulos, taxadas, pra dizer onde pertencem e o que apoiam, definindo o certo e o errado na base da ignorância e isso muito me assusta.

Às vezes dá vontade de entrar num foguete e procurar vida inteligente em outro canto do sistema solar. Porque aqui na Terra, sinceramente, ela já entrou em extinção.

"Os preconceitos, são a razão dos imbecis." (Voltaire)

"Enquanto imperar a filosofia de que há uma raça superior e outra inferior, o mundo estará permanentemente em guerra." (Bob Marley)

"A quantidade de preconceito que cada um de nós tem é inversamente proporcional à de inteligência," (Jefferson Luiz Maleski)

"Tempo difícil esse em que estamos, onde é mais fácil quebrar um átomo do que um preconceito." (Albert Einstein)



segunda-feira, 15 de setembro de 2014

The Great Pretender




Ele finge que não se importa. E do alto de sua pose de superioridade, finge que algo assim, não está na sua lista prioritária. 

Ele vê a felicidade ao seu redor e estampa na face um falo sorriso, dizendo que a dele, não se encontra no mesmo lugar.
Ele posa de bem resolvido, de inatingível, vivendo como se uma coisa assim tão "mundana", não fosse capaz de lhe atingir.
Ele diz que sua felicidade se encontra em sua liberdade, num pote de brigadeiro, no "não ter que dar satisfação de sua vida" para ninguém.
Ele vive como se não se importasse.
Mas quando chega a noite, e ele não precisa mais fingir, seu travesseiro sente o peso de cada lágrima recolhida durante o dia. 
Ele se importa sim. Se faz de superior, porque tem medo de demonstrar tanta fraqueza. Sabe que este é o primeiro e mais desejado item de sua lista, mas finge que ele não está lá.
A felicidade espalhada ao seu redor, remexe no mais íntimo de sua alma, pois ele não consegue entender, porque todos tem direito a essa alegria e não ele?
Ele diz que não. mas tudo que ele queria era estar naquelas fotos. Estampar o mundo com imagens de sua própria alegria, esparramar seus momentos de felicidade, colorir o mundo com seu sorriso mais satisfeito.
Tudo que ele queria era alguém para fazer careta do lado, andar de mão dada e dizer aquele boa noite sussurrado  ao pé do ouvido...
Tudo que ele queria era você, que ele nem sequer imagina onde possa estar.
Será que tá mesmo tão difícil de enxergar alguém como ele dando sopa por aí?


Autopsicografia 
                                   
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.




terça-feira, 19 de agosto de 2014

Há Algo de Podre na Reino da Perfeição

Fonte da Imagem: Wordpress - A Vida e o Universo


O mar seguia calmo. Tudo azul, sem mesmo uma onda mais forte que indicasse alguma agitação. Ela seguia seus dias, na ilha distante, sem saber notícias do continente. Aquele tempo tinha ficado para trás e ela estava certa de que não fazia mais parte daquela vida. Uma vida de comercial de margarina, era o que via quem olhava de longe. Pessoas lindas, vivendo uma vida linda. Um lindo dia de sol, sem nenhuma nuvem que atrapalhasse a visão de um lindo céu azul.
Na ilha, tudo seguia seu curso. Ela continuava a viver, pensando no continente como parte de um passado distante, que não lhe pertencia mais.
Mas naquele dia, caminhando pela praia, encontrou uma garrafa flutuando no mar. Aquilo realmente fugia de sua rotina. A garrafa trazia uma mensagem. E qual não foi sua surpresa ao ver que a mensagem vinha do continente! Mal podia acreditar, que depois de tanto tempo vivendo sua vida sossegada, as sobras do que ela tinha deixado para trás, pudessem vir a incomodá-la.
Ela ficou indignada. Depois riu. Depois leu a mensagem de novo. Depois ficou com pena. Depois percebeu que o comercial de margarina não era tão bonito assim. E foi aí que se formou uma nuvem. Que ela descobriu que podia produzir. Ela sempre teve o poder de saber tudo o que queria. Tudo. Sempre. Todas as respostas chegavam a suas mãos, de um jeito ou de outro. Mas ela tinha esquecido. Ela nunca acreditava. E mais uma vez, seu poder se provou. Da nuvem que ela produziu, gotejou uma chuva fina, que está caindo sobre o continente. Borrando o quadro perfeito. Embaçando o comercial de margarina.
A nuvem AINDA é pequena. A chuva AINDA é fina. Mas isso bastou para ela saber que pode produzir TEMPESTADE. Que pode virar FURACÃO.
Ela está sossegada em sua ilha. E pretende continuar desse jeito. Que não seja encontrada mais nenhuma garrafa vinda do continente nas ondas de seu mar. Porque ela não gosta de poluição.


Se eu quiser fumar eu fumo
Se eu quiser beber eu bebo
Eu pago tudo que consumo
Com o suor do meu emprego
Confusão eu não arrumo
Mas também não peço arrego
Eu um dia me aprumo
Eu tenho fé no meu apego.


Eu estou descontraído
Não que eu tivesse bebido
Nem que eu tivesse fumado
Pra falar da vida alheia
Mas digo sinceramente
Na vida a coisa mais feia
É gente que vive chorando de barriga cheia
É gente que vive chorando de barriga cheia
É gente que vive chorando de barriga cheia


(Maneiras - Arlindo Cruz)

sábado, 9 de agosto de 2014

Escondido




Hoje te achei escondido na última página de uma agenda antiga, guardada numa caixa que estava esquecida embaixo de uma pilha enorme de mais um monte de caixas nas quais não mexia há tempos...
Nem sei porque abri justamente aquela agenda , no meio de tantas outras.
Lá estávamos, em outra edição de nós dois. A foto de uma outra vida. Uma vida na qual aquele, foi o dia mais feliz.
O dia em que pela primeira vez senti teus lábios nos meus.
Pela primeira vez eu pude saber qual era a sensação de voar, mesmo com os pés fincados no chão.
O dia em que meus braços perderam a utilidade, pois eu não sabia o que fazer com eles.
O dia mágico e maravilhoso em que o menino mais lindo da escola era só meu.
A desajeitada, sem graça e longe de ser bonita.
E você estava ali, todo meu.
Desse dia restou apenas aquela foto e as doces lembranças eternas dentro do meu coração.
Acho que por não ter notícias suas há tanto tempo, meu subconsciente te procura. E pior que te encontra, apenas para provar que mesmo distante e ausente, você continua presente, ainda que escondido numa pilha de coisas quaisquer.

"... E quando finjo que esqueço, eu não esqueci nada
E cada vez que eu fujo eu me aproximo mais
E te perder de vista assim é ruim demais 
E é por isso que atravesso o teu futuro
E faço das lembranças um lugar seguro
Não é que eu queira reviver nenhum passado
Nem revirar um sentimento revirado
Mas toda vez que eu procuro uma saída
Acabo entrando sem querer na sua vida..."
(Quem de Nós Dois - Ana Carolina)

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Boazinha, mas nem tanto!



Eu queria poder dizer que estou feliz por você.
Que essa notícia, que deveria ser boa, soasse boa aos meus ouvidos também.
Eu queria poder ter um boa opinião sincera sobre isso.
Queria compartilhar dessa alegria e te desejar toda felicidade nesse momento.
Queria ser uma boa pessoa que esquece os defeitos e as coisas ruins que as outras fizeram; que consegue arquivar essas coisas e separá-las, deixá-las no passado e ver que o presente é outra coisa.
Queria poder te dar um abraço sincero e dizer para você ser feliz.
Mas eu não consigo.
Meu nível de "santidade" acaba onde começa a hipocrisia.
E eu prefiro deixar de ser "santa" do que começar a ser hipócrita.

"O verdadeiro hipócrita é aquele que deixa de perceber sua falsidade, aquele que mente com sinceridade." (Anatole France)

"É mau o pecado, mas é muito pior a hipocrisia"
(Ramón de Campoamor y Campoosorio)

"O que fizeram comigo, me criou. É um princípio básico do universo que toda ação cria uma reação igual e oposta."
(V de Vingança)

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Ranzinzice



Ás vezes eu acho que estou ficando véia. Não velha, no sentido real da palavra, mas véia, e daquelas bem ranzinzas.
Sei lá, eu ando sem paciência com tanta coisa, implicante, irritada... Tem hora que nem eu me aguento.
Não tenho paciência para aguentar bobagens. Eu quero conteúdo, cultura, quero conversas inteligentes! Não que eu vá ficar falando de filosofia e matemática e de como as leis da física estão presentes em nosso dia a dia, mas você já parou para escutar uma conversa dos adolescentes de hoje? Não que todos sejam completos imbecis – toda regra tem sua exceção – mas é um índice de quase 90 % de futilidade e inutilidade.
É claro que eu também falo bobagem e rio de coisas tontas. Mas não é o tempo todo. Tem hora certa, lugar certo disso acontecer. Tem motivo.
É difícil tentar explicar algo que nem eu mesma consigo compreender, mas dá para perceber que eu tô parecendo aquela véia chata e implicante da vizinhança?
Eu só quero um pouco de sossego. Um bom livro e uma boa conversa. Alguns minutos de paz para observar o céu. A tranquilidade de uma brisa no rosto. A leveza de não carregar tanta responsabilidade nos ombros. Uma caneca de leite com café e um chocolate.
Tranquilidade.
Às vezes dá vontade de fugir de tudo e de todo mundo. Não gosto de me sentir desse jeito. Parece uma infecção. Começa em mim e vai se espalhando até infectar todo mundo numa chatice sem fim. Não gosto.
É... sei lá... Uma sede de mudança.
Quero que as pessoas parem de brigar. Quero que se acabem as guerras sem motivo, onde quem paga é sempre quem não tem nada a ver com isso. Quero que as pessoas se respeitem e entendam que somos todos diferentes e pronto. Que cada um cuide da sua vida e deixe que os outros cuidem das deles.
Tô sem saco pro preconceito, pra inveja, pra disse-me-disse, pra gente intrometida, gente xereta, gente tosca, gente chata...
Resumindo: tô sem paciência pra tanto mimimi.

Vou me recolher à minha ranzinzice e esperar passar. Por hora, é o melhor que eu posso fazer.

sábado, 12 de julho de 2014

Imensidão



Ah como eu queria aparecer de repente na frente daquele portão só para saber como seria. Não é possível que esse tipo de pensamento povoe apenas a minha mente. Não depois de tudo. É quase como uma obsessão que aparece de tempos em tempos para roubar minhas noites de sono e me perturbar. E eu, sem conseguir evitar, me perco imaginando as inúmeras possibilidades dentro de um "e se".

E se a gente tivesse ido mais longe naquele dia? Como teria sido? E se eu aparecesse hoje no seu portão? O que faria? E se fosse eu aí do seu lado, no lugar dela? Se me visse agora, qual seria sua reação? Se eu te tocasse agora, ainda seria sensível a mim? Antes bastava apenas um olhar, mas e agora? Se eu te beijasse hoje, seria capaz de resistir? Será que você ainda pensa em mim?

As horas da madrugada se esvaem, o sol da manhã desponta. A noite de sono foi perdida. Olheiras marcarão o meu dia. E tudo por causa da imensidão que cabe dentro de um aparentemente simples "e se".

Nem sei
Dessa gente toda
Dessa pressa tanta
Desses dias cheios

Meios-dias gastos
Elefantes brancos
Vagalumes cegos
Meio emperrados
Entre o meio e o fim
Meio assim

Nem sei
Dessa pressa toda
Dessa gente tanta 
Meios-dias feios
Desses dias chatos

Vagalumes brancos
Elefantes cegos
E o céu engarrafado
Fica por aqui

Vem cuidar de mim
Vamos ver um filme, ter dois filhos
Ir ao parque
Discutir Caetano
Planejar bobagens 
E morrer de rir

Fica bem aí
Que essa luz comprida
Ficou tão bonita
Em você daqui
Fica bem aí
Que essa luz comprida
Ficou tão bonita
Em você daqui

Ninguém vai dizer
Que foi por amor
Todos vão chamar de derrota
Vamos esconder nosso cobertor 
E vamos viver sem escolta
(Cícero - Vagalumes Cegos - Trilha do filme: Hoje Eu Quero Voltar Sozinho)


Ps: Sei que a música parece não ter muito a ver com o texto, mas é que ela não me saiu da cabeça enquanto eu escrevia, então...

sexta-feira, 13 de junho de 2014

A Copa do Mundo é Nossa. Tá, mas e aí?



Eu não ia falar nada não. Mas não dá. E como eu sei que o texto vai ficar grande demais pro Facebook vou postar aqui. É, tô falando da Copa sim. Não pude evitar.
Pra falar bem a verdade, eu não tava muito animada – e ainda não estou - com essa copa não. Falei que não ia torcer, critiquei e continuo criticando a forma como tudo foi feito. O fato de que o país tem problemas gritantes e diz-se que não há dinheiro suficiente para resolver, mas que para construir estádios com custos astronômicos, o dinheiro surgiu rapidinho.
Então vamos falar do que concordo e discordo.
Que a copa é um grande acontecimento que pode trazer benefícios e colocar nosso país em evidência. Concordo. Qual país não gostaria de ter as atenções do mundo voltadas para si, aproveitando a oportunidade de trazer estrangeiros, o que vai gerar dinheiro, oportunidades de negócios, interesse de empresas se instalarem no país criando novos empregos e sei lá mais o que. OK.
Ao mesmo tempo, será que não deu para perceber que nosso país não tem estrutura para isso? A gente não tem saúde, o trânsito é caótico, os meios de transporte não são suficientes. Ontem mesmo fui marcar uma consulta para mim e só tem para daqui a dois meses com um clínico geral!!! Eu não tenho dinheiro para pagar particular. Dependo dessa m... que faz com a gente o que quer. Aí a gente morre e não sabe nem porque.
Outro ponto: que vivemos numa democracia e todo mundo tem direito de protestar e lutar por aquilo que acha justo. Concordo. A gente não tá mais na ditadura – graças a Deus. Somos livres para pensar, para expressar nossas opiniões, para vivermos do jeito que queremos. Isso tudo, dentro da lei.
A partir do momento que se sai por aí com uma máscara na cara, quebrando tudo que vê pela frente, jogando bomba, botando fogo nas coisas das pessoas, assaltando turistas, prejudicando inocentes, aí deixa de ser protesto e vira baderna. Vira crime. Será que não dá para perceber que quem vai pagar por toda essa m... depois é a gente?
O cara vai lá, depreda o banco, faz greve de metrô, queima busão, assalta loja, rouba o carro dos outros, põe fogo nas avenidas e aí? Depois dos protestos, os “caras” sobem em seus jatinhos e voltam para sua vida de luxo e riqueza e quem fica sem transporte, sem saída, sem locomoção? Você. O mesmo idiota que saiu quebrando tudo por aí. E o pior, prejudica teus colegas de profissão, teus colegas de situação, teu vizinho, teu amigo, a faxineira que depende do busão, o operário que depende do metrô. Gente como a gente, que trabalha suado para tirar uns trocados no fim do mês e sustentar uma família que, na grande maioria das vezes, depende daquele trocadinho suado – e insuficiente - para viver. Quebrar tudo mudou alguma coisa na vida dos caras lá? Eu acho que não. Mas que faltou pão na mesa do seu Zé e da dona Maria por causa daquele dia em que eles não puderam ir trabalhar, ah isso faltou.
E falar o quê do dia de hoje? Mais protestos sem sentido. Até a hora que eu vi, estavam tentando explodir um posto de gasolina. Me fala, para quê? Duas repórteres da CNN feridas. O cara vai lá no Iraque cobrir a guerra e volta inteiro, vem pro Brasil cobrir a Copa e sai machucado? Cara, como assim? E essa abertura? Contratar uma belga para falar da cultura do Brasil? Deixasse na mão dos carnavalescos, que fazem em todos os fevereiros um espetáculo muito mais bonito do que essa apresentação que até minhas dancinhas no prezinho deixaram no chão. (Tenho fotos para provar!). Isso só mostrou ao mundo que não há ninguém no Brasil apto a retratar a cultura nacional. Tivemos que buscar um estrangeira para fazer uma apresentação sobre nós. Ridículo.
E o que dizer dessa musiquinha da Copa, sem letra, sem música, sem nexo? A Shakira gravou uma que só fala lá lá lá pra um comercial de TV e derrubou esse “Hino da Copa” na hora! Queremos Shakira já! Se é para ser patriota, para quê chamar dois estrangeiros para cantar na abertura e esconder a brasileira? E outra, Claudia Leite, minha gente? Fala sério! Pusesse um show do Capital Inicial ali e o sucesso tava garantido. Ou pelo menos a Ivete que tem mais carisma e mais projeção internacional. Mas Claudia Leite? Ah vá, né. Fora as vaias da torcida para a seleção da Croácia que entrou em campo para se aquecer. Baita falta de educação.
E o tal do exoesqueleto? Ia ser um marco da abertura da Copa! Foi anunciado com grandes louvores: um garoto paraplégico, ia caminhar até a bola e dar o pontapé inicial da Copa. E cadê? O que se viu, na verdade o que não se viu, foi o pobre do garoto escondido num canto sem câmeras do estádio, encostando a ponta do pé numa bola que logo outro garoto pegou e saiu correndo com ela. Hein?
Esses fatos se juntam para aumentar a vergonha que dá de ser brasileiro nessa hora. De saber que o mundo inteiro tá vendo essas coisas ridículas, esses protestos descontrolados, repórteres feridos, desordem, desrespeito, violência, falta de educação. Só ressalta a opinião de todos lá de fora que aqui no Brasil só tem selvagens. E diante de toda essa bagatela, como que a gente vai argumentar?
Mas eu preciso dizer, que na hora do jogo, a emoção tomou conta de mim. Ouvir a torcida e os jogadores unidos, cantando o hino nacional mais bonito de todos – que é o nosso – me deu um arrepio, subiu uma emoção que eu nem sei explicar. Quando vi, já estava tomada pela alegria contagiante de ser torcedora. De ser uma amante do futebol, torcendo por seu país. Tá vendo? Eu não sou imune.
Mas isso não faz de mim uma hipócrita. Não é porque o Brasil ganhou que eu vou esquecer que eu não tenho o médico que eu preciso. Não é porque eu torci pro Brasil e vibrei e gritei que me tornei uma traidora das ideologias contra a Copa. Não é porque eu assisti ao jogo e vibrei com a vitória do Brasil, que eu vou deixar de lado o fato de que o país está um caos. Não!
Eu sou brasileira, AMO meu país, acho que perto de uns e outros a gente vive num país privilegiado e o defendo com unhas e dentes daqueles que nos fazem acusações injustas.
Mas eu também sou inteligente demais para não enxergar os problemas. Para não ver essa clara situação de “pão e circo” que se apresenta. De não ver guerrinha política inútil por trás disso tudo. De não ver que tem gente aproveitando os protestos para se aparecer. Eu tenho um cérebro e ele funciona, sabe? E não é porque eu torci pela minha seleção, que meu cérebro deixou de funcionar. Eu continuo precisando do meu médico. A dona Maria continua dependendo do busão. O seu Zé ainda precisa do metrô. Ainda acho que você que quebra tudo por aí é um idiota.
Não quero saber se a culpa é da lula, do tubarão, da arraia ou do seu Siriguejo. Quero que meu país cresça. Quero que a gente evolua. Quero que o Brasil ganhe a Copa, mas quero meu médico, quero metrô, quero busão, quero escola, quero salário digno. Mas quero, acima de tudo,  que os brasileiros aprendam a ser patriotas muito além do hino nacional.

sábado, 17 de maio de 2014

COMEÇOU! A MÁSCARA CAIU!




Ah gente a verdade é que eu queria postar um texto bonito, algo que falasse de amor e fosse todo enfeitado com flores e borboletas, mas tá difícil para mim não pensar no que aconteceu. Nem copiar um texto antigo eu consigo.
Eu me sinto sei lá, suja, quando vejo gente ruim fazendo mal para quem eu amo. Gente que não tem uma gota de bondade dentro do coração, querendo se dar bem às custas dos outros. Gente que é capaz de usar uma criança inocente para fazer uma tempestade e ainda posar de vítima.
É triste, sabe? Uma pessoa que tem tudo na vida para ser feliz, mas não consegue seguir em frente se não destruir a felicidade alheia. Aí pega de um pequeno fato normal, que acontece com todas as pessoas e transforma num Godzilla do qual ela é a única vítima indefesa. Oh pobre coitada.
Tenho pena de você, sabia? Porque a gente  graças a Deus, não é obrigada a conviver 24 horas por dia com você. Porque quando eu olho no espelho, não é a sua cara que eu vejo. Porque quando eu deito a cabeça no travesseiro, não sinto o peso da tua consciência dentro de mim. Se é que você sabe o que é isso.
Eu posso me afastar de você e te excluir da minha vida, enquanto você é obrigada a carregar essa podridão dentro da alma, e não tem modo de se livrar dela. Coitada de você.
Não sou santa e estou longe de ser perfeita, mas nunca passei por cima de ninguém para me auto afirmar. E a pessoa que você tanto ataca é uma mãe de família, defendendo sua cria, longe de te insultar ou de te destratar, por mais que você mereça. Sempre te tratou com respeito e educação, coisa que você não tem e também acaba de provar que não merece.
Não precisa declarar aos quatro ventos que quer distância dela, porque com certeza eu e todas as pessoas que a amam vamos garantir que ela esteja sempre bem longe de você.
É realmente muito triste que você tenha feito as coisas tomarem essa proporção. Mas você precisa disso, senão de que outro modo você ia aparecer? Você é tão insignificante, que precisa usar uma criança e um ato inocente pra mostrar pro mundo que você existe e se fazer notar. Mas você é tão estúpida, que acaba de mostrar ao mundo sua face, sem máscaras, o monstro cruel e insensível que você é de verdade.
De minha parte, saiba que é um favor que você me faz, ficando longe de mim e dela. De gente ruim, invejosa e falsa, NÓS é que queremos distância. Assim eu não preciso mais fingir que gosto de você, nem gastar meus cumprimentos e minha educação com você.
De resto, fique longe da gente e durma com essa podridão, essa porcaria de alma ruim que você tem. Eu vou dormir feliz, só de saber que eu não sou você.
Um dia a casa cai. Sua máscara já caiu (aliás você é tão imbecil , que nem precisou de ajuda, foi lá, arrancou e tacou no chão sozinha). Quanto tempo mais você acha que o resto vai suportar nessa base de areia na qual você construiu?

"Tudo o que você faz, 
Um dia volta para você
E se você fizer o mal
Com o mal mais tarde você terá de viver"
(Boomerang Blues - Renato Russo)

quinta-feira, 10 de abril de 2014

HUMANA




A madrugada me abriga e em seus braços eu posso me entregar. Posso ser uma criança perdida, que não tem a menor ideia do próximo passo a dar...
Eu posso me entregar às lágrimas, em silêncio, enquanto toda a cidade dorme e, deste modo, sair daquela pose de que está sempre tudo bem. Posso me entregar à raiva que sinto, de ter que ser sempre forte, sempre compreensiva, sempre seguir em frente de cabeça erguida.
Posso me perguntar o que está acontecendo e por que as coisas são como são. Por que nos são jogadas nas mãos decisões tão difíceis de tomar? Por que uma situação chega a esse ponto? Onde perdemos o fio da meada? Onde deixamos de ser o que éramos juntos, para virar essa bagunça em que estamos? Por que, afinal, tá tudo bagunçado desse jeito? Por que tem tanta gente ruim no mundo que não sofre um terço do que a gente está sofrendo?
Me sinto tão livre na madrugada...
Posso chorar por aquelas coisas remotas lá de mil novecentos e bolinha, sem que alguém me censure, dizendo para ser forte, que o passado já ficou para trás. Posso me indignar pelas coisas do presente, me inconformar pelos acontecimentos, posso me imaginar quebrando todos os pratos, e os copos e os vidros; posso xingar todo mundo, posso gritar com quem eu quiser.
Eu não preciso ser compreensiva. A garota exemplo. A forte. A inteligente. A controlada. A perfeita.
Eu posso ser só eu.
Uma mulher de 28 anos que não cresceu.
Uma garota pedindo colo com vontade de chorar.
Posso ser simplesmente humana.

Acima, acima e longe, longe de mim
Mas tudo bem
Vocês podem todos dormir sossegados essa noite
Eu não sou louco nem nada parecido

Estou cansado de voar
Não sou tão tolo
Homens não foram feitos para andar
Com as nuvens entre seus joelhos
( Superman (It´s Not Easy) - Five For Fighting)


(...)Se eu quiser chorar, não ter que fingir,
Sei que posso errar, que é humano se ferir.
Parece absurdo, mas tente aceitar
Que os heróis também podem sangrar.
Posso estar confuso, mas vou me lembrar
Que os heróis também podem sonhar.
E não é fácil viver assim.(...)
(Super Herói (Não é Fácil) - Sandy e Junior)


quinta-feira, 20 de março de 2014

ME ACORDE QUANDO SETEMBRO ACABAR




Cada noite me tira o sono por um motivo diferente.
Mas o motivo das últimas noites tem sido o mesmo.
Tá tudo desmoronando e eu realmente não sei o que fazer.
É um pedido de socorro desesperado e eu me sinto tão desarmada, tão vulnerável, eu não sei como lutar. Eu não possuo armas suficientes para entrar nessa guerra, eu não consigo nem ao menos enxergar a mínima possibilidade de vencer.
Como posso lutar com algo que é parte de mim?
Como ganhar disso sem destruir tudo ao redor, sem danificar ainda mais tudo que já está afetado, sem derrubar no chão e quebrar os cristais da estante?
Os soldados estão fraquejando. Alguns se entregaram, fundo demais.
As bases já não são mais sólidas e eu nem ao menos sei quando o posto de comandante me foi dado.
Não há trincheiras onde possamos nos proteger. As bombas vem de todos os lados e eu não consigo enxergar quem as atira. Há soldados guerreando entre si.
A nossa fortaleza está se desfazendo em uma pilha de destroços que cresce a cada dia.
Para onde eu olho há destruição.
Bate uma vontade desesperada de bater em retirada e abandonar o campo de batalha. Eu não quero essa guerra para mim. Eu não quero lutar, eu não quero brigar, eu não quero mais destruição.
São muitos os feridos, muitos os envolvidos e essa dor parece não ter fim.
Eu não consigo ver luz no fim deste túnel.
Eu não sei a quem recorrer, eu não sei como pedir ajuda.
Estamos acuados, acossados.
De onde tiro forças para reagir?
O que devo fazer para vencer?
Será que no meio disso tudo existe algum vencedor?
Ainda não enxergo a solução. Talvez pela falta de sono, talvez pelas lágrimas que embaçam minha visão.
Nada existe que possa ser feito. 
A menos que eu descubra a fórmula de uma bomba nuclear e exploda isso tudo de uma vez.
Ninguém perde. Ninguém vence.
E eu posso voltar a dormir.



quarta-feira, 12 de março de 2014

TIMIDEZ



Era fácil. O plano já estava todo armado em sua cabeça.
Ele estava online. Ótimo.
Agora era só abrir a janelinha, puxar um papinho casual, falar de amenidades e soltar a pergunta. 
Simples. Fácil. Rápido.
OK. -  Ela pensava. - OK. Só abra a janela, pergunte como vai, td bem, quer ir na festa comigo, sim, não, OK.
Abriu a janela. Falou de amenidades. Falou da faculdade. Da chuva que tomou de tarde. Da chuva que voltou a cair agora. Dos amigos em comum que estão dando uma festa.
Chegou no assunto festa.
Não perde a chance. - pensava. - É agora, joga no ar, em tom de brincadeira, quer ir comigo?
Os dedos no teclado.
Quer... apaga.
Você  vai... apaga.
Respira. Olha em volta, pensa.
Ele digita que esse tipo de festa é demais.
A chama se acende: Viu? É só perguntar agora.
Dedos a postos novamente.
Vem comigo... apaga.
Quer ir... apaga.
Bom, acho que vou assistir um filme. Boa noite. -  Digita.
Fecha a janela. Sai do Face.
Perde a chance.
Timidez.

sexta-feira, 7 de março de 2014

IDIOTA

Toda vez que remexo meus armários, inevitavelmente encontro algum resquício de você. Há sempre uma frase, um texto, seu nome rabiscado no cantinho de alguma página...
Encontro em minhas palavras o lindo sentimento que eu nutria por você. Eu reparava em cada pequeno gesto. Descrevia cada olhar, cada sorriso que você destinava a mim. Transcrevia cada palavra que você me dizia com a mais intensa emoção.
Quem pegar estes textos hoje e ler, pode me chamar de cega, de burra. Até mesmo dentro de mim existe uma parte dizendo: "Cara! Como você pôde ser tão idiota?
Mas depois de toda a bagagem que adquiri convivendo com você, eu me pergunto: "Do que exatamente eu devo ter vergonha?"
Eu era completamente apaixonada por você. Eu era capaz de fazer qualquer coisa por você. Eu preparava surpresas no teu aniversário e, ao contrário de você, te dava presentes realmente incríveis.
A gente formava uma dupla incrível. Juntos, éramos imbatíveis. Tínhamos nossas sacadas inteligentes, nossas conversas cabeças, nossa forma nerd de nos divertir, nossas piadas, nossos sorrisos, nossas brincadeiras, nossos olhares e aquelas coisas que só a gente entendia. 
A gente era quase perfeito. Éramos razão e emoção. A doçura e a força. O sonho e a realidade. As nuvens e a terra firme. A certeza e a intuição. A cabeça e o coração.
Eu acreditava em cada palavra que você dizia. Enquanto todos enxergavam aquela postura sisuda, eu enxerguei teu coração. Eu aturava todos os teus defeitos. Tua cabeça extremamente inteligente e lógica, que às vezes te impedia de enxergar e te fazia parecer mente fechada; tua arrogância embutida na postura de "Eu sou inteligente. Não duvide pois eu posso mais do que você"; tua ignorância absoluta nas questões do teu próprio coração; tua acidez e estupidez que resultavam muitas vezes em algumas pequenas feridas que eu fingia não me machucar.
Ninguém entendia porque eu te aturava. Você era chato para caramba!!!
O que ninguém sabia é que debaixo disso tudo tinha um coração ferido, pedindo cura, pedindo colo e eu te dei. Te dei remédio, te aqueci, te abracei, e te fiz reencontrar o coração que você achava que tinha perdido.
Eu te dei carinho, te dei abrigo, te dei meus braços, te dei meu ombro, te dei meu colo, o meu abraço, meus versos, minhas notes de sono, meu coração...
Eu te dei AMOR.
Agora me diga, depois de tudo isso, sou eu quem tem que ter vergonha? Sou eu quem tem que se esconder? Que tem que ter vergonha de olhar no espelho? Sou eu? Por quê? Por que amei?
Se você não souber a resposta, levanta e olha no espelho aí do lado da tua cama. Tenho certeza de que a resposta estará lá.