Era uma vez a Egoísta e o Arrogante. Eles eram tudo o que um ser humano costuma ser, mas nem sempre pareciam aquilo que se chama de "Normais". Compreendiam um ao outro completamente e eram incompreendidos por quem não os conseguia ver de verdade.
Arrogante era julgado por sua franqueza. Vivemos numa sociedade onde ter opinião é ser rebelde e era assim que Arrogante era visto. Uma opinião expressa e já se arregalavam os olhos de choque. Seco. Frio. Egocêntrico. Suas três palavras para começar o dia.
Egoísta era mal interpretada. Apenas por ter um jeito diferente de se doar. Vivia fazendo de tudo dentro do que podia abrir mão em favor dos outros. E no primeiro gesto de pensar em si mesma: POF! Egoísta. Mesquinha. Encrenqueira.
Mas Egoísta e Arrogante não se veem assim. Eles não são assim. Egoísta sabe que Arrogante tem na sua opinião firme uma de suas melhores qualidades. Ele é generoso, divertido e somente luta para ter o que julga ser o melhor não só para si, como para o mundo à sua volta. Se pudesse, mudaria o mundo todo com suas próprias mãos.
Arrogante sabe o que Egoísta leva no coração. Sabe de muitas coisas das quais Egoísta abriu mão em nome das pessoas que hoje a acusam de somente pensar em si mesma. Egoísta sofre em silêncio porque sabe o quanto uma palavra pode machucar. Então se cala, ostentando um título que não merece.
Ainda que tenham um ao outro e saibam entre si exatamente quem são e como são, Egoísta e Arrogante sabem o quão injusta é essa situação. Um não pode falar porque soa estúpido, grosseiro, desdenhoso. A outra tem que fazer o que os outros querem e só pelos outros porque senão é metida, do contra, sem consideração.
O que eles devem fazer então? Deixar de ser eles mesmos e interpretar um personagem bonzinho, pacífico, benevolente, idiota, manipulável e sem opinião? Eles devem calar e assentir e dizer amém a tudo? Devem vestir as roupas que todo mundo veste, escutar as músicas que todo mundo escuta, comer o que todo mundo come e querer o que todo mundo quer? Pra quê?
Egoísta e Arrogante são singulares. E é isso o que os torna tão especiais.
É ruim passar uma imagem negativa, principalmente quando a gente sabe que ela não traduz a verdade. Mas pior ainda é a gente fingir ser quem a gente não é.
