terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

NO MUNDO DA LUA


Ontem, pra variar, eu fiquei encantada, olhando a lua que apareceu grande e amarela no céu, através das nuvens, iluminando a noite.

Não são poucas as vezes em que eu me comparo a ela. Nós duas temos nossas fases, porém, tenho certeza de que tenho mais fases do que ela.

Tenho fases de querer ficar sozinha, escondida, não falar com ninguém e ir diminuindo até sumir. Acho que posso chamar essa fase de minguante.

Outras vezes, estou cheia. Cheia de ouvir, cheia de pensar, de saco cheio de todo mundo. Apesar de irradiar também um brilho contagiante, iluminando todos ao meu redor.

Na fase crescente, as esperanças se renovam. As tristezas da fase minguante se vão e os sorrisos tomam seu lugar. Porque eu sei que uma fase melhor está vindo.

Quando me torno a lua nova, tudo está diferente. Estou renovada. Passei por todos os obstáculos para adquirir um brilho novo, maior, mais vivo.

Também ocorrem os eclipses e eu mudo de humor como quem troca de roupa. E posso garantir que os meus eclipses não são tão raros como os da lua de verdade.

Por isso, às vezes me dá uma louca e eu tenho vontade de ir morar lá. Pra ficar mais perto das estrelas e encontrar o lugar onde a minha cabeça sempre está: no mundo da lua. Outra vantagem é que lá não tem gravidade e talvez, assim, eu possa me sentir mais leve, quem sabe.

Enquanto isso, vou seguindo com minhas fases e sonhando com um dia em que eu possa entender e quem sabe, estar de corpo e alma no mundo da lua.



Lua adversa
Cecília Meireles
Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha
Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

QUEBRA-CABEÇA


O que se deve fazer quando se sente que tudo está lhe escapando por entre as mãos? Que todas as situações estão fora do seu alcance ou fugindo do seu controle?

Como controlar o pensamento que fica a mil por hora, querendo resolver tudo ao mesmo tempo e, dessa forma, acaba não encontrando solução pra nada?

O que fazer quando se tem um medo, que você sabe exatamente qual é, mas não consegue pôr pra fora, porque externá-lo vai fazer ele se tornar ainda mais real e monstruoso do que já é?

É incrível como coisas estranhas acontecem. Ás vezes você está tão mergulhado em si mesmo, tão perdido no seu próprio labirinto, que não consegue ver que uma pessoa que está do seu lado todos os dias, está sentindo exatamente o mesmo que você.

É um aperto no peito, como se algo ruim fosse acontecer. Um aperto tão forte que se torna uma dor física, chega a dar falta de ar. É como se faltasse alguma coisa.

Falta coragem, falta motivação, falta inspiração, falta tudo. E ao mesmo tempo, pra quem analisa racionalmente, não falta nada!!! Não há motivos para que o Sr. e a Sra. Perfeição se sintam vazios. Por Quê??? Eles têm tudo!!! Eles são o máximo!!!

Mas falta alguma coisa. E só quem sente é que pode saber. Mesmo que já se tenha passado por isso, mesmo que se saiba exatamente como agir para não cometer os mesmos erros, dói. O fato de conhecer a dor não faz ela doer menos.

E vem a vontade de chorar, mas as lágrimas não caem; a vontade de gritar, mas a voz não sai. Uma vontade desesperada de ser visto, mas parece que a invisibilidade nos toma. Aí vem a vontade de se entregar, de fugir, de dormir pra não ver as horas passando tão devagar; de acordar e ver que o mundo acabou...

Falta alguma coisa... Tomando essas palavras emprestadas, "...é como se faltasse a última peça do quebra-cabeça e você só vai conseguir ver a figura quando encaixar essa peça..." Mas cadê essa peça? O que é que faz tanta falta?

Não sei. Pra responder essa pergunta, cada um precisa olhar pra dentro do seu próprio coração. O que tá faltando pra mim, pode ser diferente do que falta para você. Ou, de repente, possa ser a mesma coisa que esteja faltando e a gente não consiga ver.

Seja lá o que for que esteja faltando, cada um só pode encontrar a resposta, mergulhando profundamente dentro de si, sem medo de se afogar.

A última peça do quebra-cabeça pode estar bem lá no fundo do nosso mar, somente desafiando a nossa coragem, esperando para ser encontrada.


Paira à tona de água
Uma vibração
Há uma vaga mágoa
No meu coração.

Não é porque a brisa
Ou o que quer que seja
Faça esta indecisa
Vibração que adeja

Nem é porque eu sinta
Uma dor qualquer
Minha'lma é indistinta
Não sabe o que quer

É uma dor serena,
Sofre porque vê
Tenho tanta pena!
Soubesse eu de quê!...

(Fernando Pessoa)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

NUBLADA


Esses dias, meu coração anda sob um clima de estranha tensão. Eu ando me sentindo tão deslocada, tão sem lugar...

Tenho sentido como se eu estivesse andando à procura do sol, mas com uma nuvem negra enorme pairando sobre a minha cabeça.

Há momentos em que a luz do sol se faz mais forte e consegue ultrapassar essa barreira, fazendo meu coração votar a brilhar.

Porém, a nuvem está conseguindo vencer essa batalha, tornando-se parte de mim, obscurecendo cada tentativa do sol de aparecer. Por mais que eu lute, por mais que eu tente, a nuvem está conseguindo vencer e eu sinto as forças me escaparem...

Essa nuvem me empurra para um abismo. Um abismo profundo e escuro, solitário, onde eu já estive e pra onde eu nunca mais quero voltar.

As gotas começam a cair aos poucos, escorrendo pelo meu rosto em forma de lágrimas que eu achei que nunca mais fosse chorar. Eu NÃO QUERO mais chorar assim. Eu NÃO POSSO mais chorar assim.

É como se a qualquer momento, uma tempestade fosse desabar, mandando um enorme raio. Se esse raio cair, irá me partir ao meio e o meu maior medo é não saber aonde encontrar o sol que irá afastar essa nuvem, impedindo meu coração de se partir.


"Pra onde vou agora livre,

mas sem você?

Pra onde ir, o que fazer?

Como eu vou viver?

Eu gosto de ficar só

Mas gosto mais de você

Eu gosto da luz do sol

Mas chove tanto agora sem você..."

(Carlinhos Brown)